Quando
participou da Jornada Nacional de Literatura pela primeira vez?
Foi
em 1995. Lembro porque o Grêmio jogou a semi-final da
Libertadores contra o Emelec do Equador enquanto eu estava em
Passo Fundo. Vi o jogo no hotel.
Qual sua opinião sobre este evento cultural?
Naturalmente
ela impressiona pela dimensão em números e em
alcance. Na vez em que participei, fiquei impressionado com
a interação da platéia, mesmo que uma parte
significativa dela não estivesse tão envolvida.
A Jornada é tão grande que ainda sobra muita gente
para participar.
Quais as mudanças significativas na sua vida profissional
e no evento, desde sua primeira participação até
o momento?
Na
verdade o que acontece é que a gente percebe como um
evento cultural pode afetar a vida de uma cidade e de um país.
Hoje, Passo Fundo vê a si mesma pela ótica da Jornada,
e assim ela é vista por todo o país. Mais do que
um centro de produção agropecuária ou algo
assim, Passo Fundo tornou-se conhecida pela Jornada. Eu mesmo
pude sentir isso em viagens pelo Brasil.
Qual
sua opinião a respeito do tema proposto neste ano: “Vozes
do Terceiro Milênio: A Arte da {Inclusão}”?
O
terceiro milênio é aquele em que a humanidade começa
melhor. Basta comparar com o primeiro e com o segundo. Terminamos
o primeiro achando que o mundo ia acabar por conta de crenças
religiosas. Terminamos o segundo achando que o mundo ia terminar
por conta das guerras e da tecnologia de destruição
que acumulamos. Começamos o terceiro mais prósperos
(em termos mundiais), mais capazes de olhar para problemas como
as diferenças regionais. Quando percebemos o quanto estamos
diferentes, torna-se mais óbvia a necessidade de uma
luta pela inclusão de todos no processo histórico
mundial.
Muitas pessoas estão dizendo que os jovens estão
perdendo o hábito ou o prazer de ler. Você concorda
com esta afirmação?
Não.
Basta ver os números mundiais de um livro como Harry
Potter para ver que livros podem competir e vencer a luta pelos
corações e mentes de leitores, jovens incluídos.
Os jovens estão tendo alternativas como nunca tiveram,
internet, CD, tevê a cabo, tudo. O livro precisa competir
com outros meios de entretenimento ou formação.
Ele vai perder algumas lutas e vencer outras, mas o importante
é ele saber que é único, que apenas livros
são lidos e somente neles a gente se perde através
de nossa imaginação.
Qual a temática que você mais gosta de retratar
em suas obras?
Escrevo
sobre o presente. O ultra contemporâneo. Eu escrevo sobre
aquelas coisas que acontecem ao nosso redor, às vezes
antes mesmo que a gente perceba. Eu uso uma linguagem ligada
ao cotidiano e ao que nos cerca, e escrevo histórias
com um alto nível de realidade. Dos meus livros, não
sei definir quais seriam mais legais, porque todos são
lidos quase que igualmente e todos vendem muito. Mas como preferência
pessoal, gosto muito de “Insônia”, pelo que
ele proporciona aos leitores, do “Antes que o Mundo Acabe”,
pelo tema da globalização, e do “Ímpar”,
que traz uma história inicialmente triste mas super relevante
para todos.
Você é um admirador de Machado, Dalton Trevisan,
Rubem Fonseca, Salinger, Guimarães Rosa, Faulkner e Mark
Twain. Pode-se dizer que estes são fonte de inspiração
ou admiração apenas?
Eles
são amostras de grandes textos, de como narrar. Eles
são referências, não são inspiração
nem admiração apenas, mesmo que eu morra de admiração
por eles. A gente não pode escrever bem, acredito, sem
termos grandes exemplos de como escrever. Para mim, esses são
os melhores escritores na história e no mundo.
Como surgem os temas que retrata em suas obras?
Essa
é uma pergunta de um milhão de dólares.
Em parte os temas surgem da análise racional do que nos
cerca, mas às vezes eles são conseqüência
de muita reflexão. Eu acho que os meus temas surgem em
especial da observação do que me cerca.
O que podemos esperar para o futuro?
Estou
escrevendo um livro chamado “Simples”, que é
sobre a coisa mais complexa que existe que são os relacionamentos
amorosos e sobre o caos dos relacionamentos modernos. Está
ficando muito engraçado.