- Marcelo Carneiro da Cunha

Quando participou da Jornada Nacional de Literatura pela primeira vez?

Foi em 1995. Lembro porque o Grêmio jogou a semi-final da Libertadores contra o Emelec do Equador enquanto eu estava em Passo Fundo. Vi o jogo no hotel.

Qual sua opinião sobre este evento cultural?

Naturalmente ela impressiona pela dimensão em números e em alcance. Na vez em que participei, fiquei impressionado com a interação da platéia, mesmo que uma parte significativa dela não estivesse tão envolvida. A Jornada é tão grande que ainda sobra muita gente para participar.

Quais as mudanças significativas na sua vida profissional e no evento, desde sua primeira participação até o momento?

Na verdade o que acontece é que a gente percebe como um evento cultural pode afetar a vida de uma cidade e de um país. Hoje, Passo Fundo vê a si mesma pela ótica da Jornada, e assim ela é vista por todo o país. Mais do que um centro de produção agropecuária ou algo assim, Passo Fundo tornou-se conhecida pela Jornada. Eu mesmo pude sentir isso em viagens pelo Brasil.

Qual sua opinião a respeito do tema proposto neste ano: “Vozes do Terceiro Milênio: A Arte da {Inclusão}”?

O terceiro milênio é aquele em que a humanidade começa melhor. Basta comparar com o primeiro e com o segundo. Terminamos o primeiro achando que o mundo ia acabar por conta de crenças religiosas. Terminamos o segundo achando que o mundo ia terminar por conta das guerras e da tecnologia de destruição que acumulamos. Começamos o terceiro mais prósperos (em termos mundiais), mais capazes de olhar para problemas como as diferenças regionais. Quando percebemos o quanto estamos diferentes, torna-se mais óbvia a necessidade de uma luta pela inclusão de todos no processo histórico mundial.

Muitas pessoas estão dizendo que os jovens estão perdendo o hábito ou o prazer de ler. Você concorda com esta afirmação?

Não. Basta ver os números mundiais de um livro como Harry Potter para ver que livros podem competir e vencer a luta pelos corações e mentes de leitores, jovens incluídos. Os jovens estão tendo alternativas como nunca tiveram, internet, CD, tevê a cabo, tudo. O livro precisa competir com outros meios de entretenimento ou formação. Ele vai perder algumas lutas e vencer outras, mas o importante é ele saber que é único, que apenas livros são lidos e somente neles a gente se perde através de nossa imaginação.

Qual a temática que você mais gosta de retratar em suas obras?

Escrevo sobre o presente. O ultra contemporâneo. Eu escrevo sobre aquelas coisas que acontecem ao nosso redor, às vezes antes mesmo que a gente perceba. Eu uso uma linguagem ligada ao cotidiano e ao que nos cerca, e escrevo histórias com um alto nível de realidade. Dos meus livros, não sei definir quais seriam mais legais, porque todos são lidos quase que igualmente e todos vendem muito. Mas como preferência pessoal, gosto muito de “Insônia”, pelo que ele proporciona aos leitores, do “Antes que o Mundo Acabe”, pelo tema da globalização, e do “Ímpar”, que traz uma história inicialmente triste mas super relevante para todos.

Você é um admirador de Machado, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Salinger, Guimarães Rosa, Faulkner e Mark Twain. Pode-se dizer que estes são fonte de inspiração ou admiração apenas?

Eles são amostras de grandes textos, de como narrar. Eles são referências, não são inspiração nem admiração apenas, mesmo que eu morra de admiração por eles. A gente não pode escrever bem, acredito, sem termos grandes exemplos de como escrever. Para mim, esses são os melhores escritores na história e no mundo.

Como surgem os temas que retrata em suas obras?

Essa é uma pergunta de um milhão de dólares. Em parte os temas surgem da análise racional do que nos cerca, mas às vezes eles são conseqüência de muita reflexão. Eu acho que os meus temas surgem em especial da observação do que me cerca.

O que podemos esperar para o futuro?

Estou escrevendo um livro chamado “Simples”, que é sobre a coisa mais complexa que existe que são os relacionamentos amorosos e sobre o caos dos relacionamentos modernos. Está ficando muito engraçado.

26 A 29 DE AGOSTO DE 2003 - CAMPUS UPF - CIRCO DA CULTURA - PASSO FUNDO - RS - BRASIL
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